Da vida as cinzas

CB, Cidades, p.29 - 22/09/2005
Da vida às cinzas
Incêndio que atingiu o Jardim Botânico e outras duas reservas ecológicas consumiu 7% da vegetação de cerrado protegido no DF. Especialistas apontam prejuízos irreparáveis para a fauna e a flora da região
Helena Mader e Renato Alves
Da equipe do Correio
Os dois dias de incêndio em três das principais áreas de preservação do Distrito Federal deixaram prejuízos irreparáveis para a fauna e a flora do cerrado. A área queimada representa a eliminação de 7% de toda a vegetação incluída em reservas ecológicas do quadrilátero. Desde as 10h de segunda-feira até a manhã de ontem, as labaredas transformaram em cinza o equivalente a 3,8 mil campos de futebol. O Jardim Botânico, a Reserva Ecológica do IBGE e a Fazenda Água Limpa foram consumidos pelo fogo. Mesmo com o incêndio extinto, os bombeiros permaneceram de plantão, ontem de manhã, nas áreas de cerrado enegrecido para evitar o surgimento de novos focos.
As três reservas abrigam representantes de um terço da fauna do cerrado, inclusive de espécies ameaçadas de extinção, como o tatu-canastra, o lobo-guará e o tamanduá-bandeira. Ainda não se sabe quantos sobreviveram. Mas os bombeiros presenciaram a agonia de vários animais. Salvaram poucos. Especialistas começam a detalhar hoje a extensão dos estragos. Eles vão avaliar quais espécies de plantas e animais foram atingidas.
Já se sabe, no entanto, que foi queimada toda a população de arnica do Jardim Botânico. A planta ameaçada de extinção é bastante usada pelas pessoas para a cicatrização de ferimentos. Como o fogo também atingiu matas de galerias e árvores antigas, o cerrado naquela área está condenado à extinção. As matas de galeria serão tomadas por plantas invasoras, como capins”, explica a professora Jeanine Felfili, do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB).
A fumaça que incomodou moradores dos condomínios próximos ao Jardim Botânico e também do Plano Piloto concentrou-se ontem nas áreas queimadas e dificultou o trabalho dos bombeiros, que precisaram eliminar as últimas chamas. Às margens das vias que cortam a unidade de conservação, os danos ao meio ambiente são evidentes. Gaviões e outros pássaros sobrevoam a região em busca de comida, mas é difícil encontrar vida em meio à destruição.
O zoólogo Jader Marinho, professor da UnB especialista em mamíferos, teme pelo futuro da fauna nas três reservas queimadas. A quantidade de espécies ali é grande, mas a população é pequena, uma média de 10 a 15 indivíduos por espécie. Por isso, qualquer perda é muito grande”, lamenta. Os animais sobreviventes correm risco de morrer atropelados nas vias ao redor das áreas queimadas, por falta de comida e por predadores – como os gaviões. Os próximos 30 dias serão de escassez de alimentos. Os animais perderão peso e ficarão frágeis.”
Para evitar novos incêndios de grande dimensão, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Ibama) promete reestruturar os programas de combate e prevenção às queimadas no DF. Os funcionários do órgão querem encontrar mecanismos de vigilância mais eficientes para extinguir o fogo antes que ele se alastre. Vamos reavaliar os procedimentos adotados”, comenta o gerente regional do Ibama, Francisco Palhares.
Deputados federais do Partido Verde (PV) visitaram ontem à tarde o Jardim Botânico e se comprometeram a apresentar emenda de R$ 5 milhões para a recuperação e preservação da área. Ainda é desconhecida a causa do incêndio e o local onde ele começou. O Corpo de Bombeiros e a direção do Jardim Botânico esperam resultado de perícia. Os bombeiros garantem que não faltou carro nem pessoal no combate ao fogo. Alegam que foram acionados muito tarde, depois que a queimada estava fora de controle.

CB, 22/09/2005, p. 29 (Cidades)
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